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Opiniões sobre o axé baiano

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Esses dias eu andei procurando uma coisas na internet,
quando me deparei com uma matéria escrita a algum tempo
sobre esse ritmo tão polêmico e popular na Bahia que se
chama AXÉ.
O caso é que nunca em nenhuma época, que eu me lembre,
qualquer estado brasileiro fora o Rio e São Paulo, tinha condições
de sustentar com sucesso, sua produção cultural musical.
A Bahia como sempre veio a ser o primeiro, como capital e muitos
outros babados. O que torna um pouco perigoso ser baiano.
Hoje, como todos sabem, parece ser o tempo dos baianos em
diversas áreas da cultura e do esporte, vide nossos artistas
arrazando em novelas, cinema e nos palcos de maneira geral.
Lazaro Ramos é no momento nosso maior expoente. seguido
de perto por Wagner Moura e tantos outros.
Mas vamos retomar o fio da meiada.
Descobri um depoimento de um amigo, músico muito importante
lá nas nossas bandas da Bahia e nas bandas de música, Fred Dantas.
Ele me deu uma visão muito interessante, que me levou a por aqui
para que meus amigos possam aprecia-la.

Segue aqui a matéria:

Olá amigos!
Esse texto saiu no jornal A TARDE, Salvador-Ba, no dia de hoje. O autor é Fred Dantas, um músico respeitadíssimo aqui na capital baiana, maestro e multi-instrumentista, trombonista de primeira, ele tem uma orquestra que leva seu nome. Formado em Etnomusicologia, Fred Dantas foi o responsável pelo magnífico trabalho de pesquisa e gravação musical do projeto “Bahia, Singular e Plural”, promoção do Governo do Estado da Bahia, que retrata uma parte da cultura popular do interior do nosso estado. Essa série, Inclusive, está sendo transmitidida pela TV Cultura de SP, aos domingos, depois do “Bem Brasil”, para todo o país.
Axé!
Lourival Augusto
Salvador-Ba.

” Artigo: Axé-music, por que não?

Desde que inventaram o rótulo axé-music para a nova música afro-baiana, a imprensa do sul anuncia o ‘início do fim’ desse estilo de cantar e tocar. Mas ele ainda não deu sinais de esgotamento. Não nos referimos ao pagode baiano. Esse é o ressurgimento do samba de senzala, numa cadeia sucessória que inclui samba-chulo, samba-de-roda, sambões de praia, samba de São João nos bairros de Salvador e, finalmente, o pagode industrial que aí está. O axé vem doutra cepa: a verdadeira revolução foi a mudança do andamento, para mais lento, dos instrumentos, para mais graves e, principalmente, para a batida fundamental, percebida, inicialmente, por volta de 1982, nos blocos Muzenza e Olodum, depois, adotada no Ilê Aiyê e Ara Ketu.
A essa altura, o samba carioca não mais representava os anseios do povo negro, e os blocos afro-baianos saíram na frente, criando um estilo de música que, em suas letras, louvavam a grandeza das tradições africanas e exigiam a libertação de Nelson Mandela.
Mas o que nos interessa, sobremaneira, é que se criou, de fato, um novo padrão de ritmo, que, depois de mesclado com os contratempos do movimento reggae jamaicano, originou o samba-reggae, adotado na programação dos teclados japoneses, exportados para o mundo todo. Quando as bandas de trio elétrico traduziram a batida dos tambores para guitarra, baixo e bateria, criou-se, de fato, a axé-music, uma música de letras descartáveis e harmonia simples, mas que cativou a juventude, que, de outra forma, estaria submetida ao bate-estaca da indústria cultural americana.
Malgrado as letras de mau gosto adotadas pelo pagode – que não pode ser confundido com o movimento dos blocos afros nem com o axé de trio – e a fortuna dos produtores, que pensam, sobretudo, no lucro, não podemos sair por aí criticando a nova música baiana, porque existem pontos positivos que devemos observar, como:

a) Há uma nova música, plenamente identificada, ou seja, parimos um novo estilo, estruturalmente diferente das canções praieiras de Caymmi e do “ioiô iaiá” dos baianos folclóricos.

b) Essa música é, antes de tudo, aeróbica, coreográfica, demandando espaços livres e movimentos de dança que fazem bem à saúde. Ao contrário das músicas tecno e de discoteca, que pressupõem espaços fechados e de movimentos pouco criativos.

c) Enquanto a música “antiga”, louvada por muitos, era, freqüentemente, associada ao consumo do álcool e a um baixo-astral permanente (a tal “boemia, aqui me tens de regresso”), a música axé é juvenil e está mais para gatorade que para uísque.

d) Enquanto outro estilo de sucesso, o “brega-sertanejo”, é, sobretudo, uma música de pessoas amorosamente malresolvidas (“diga se lhe deixei faltar amor…”), a nossa música jovem está de bem com o namorico (“o seu amor é canibal, comeu meu coração, mas agora estou feliz”).

e) Finalmente, existe um mercado de trabalho plenamente ocupado por artistas da terra, que, de outro modo, estariam empacotando mercadorias. E os músicos profissionais que acompanham bandas famosas adquirem instrumentos de boa qualidade, que vão enriquecer as jam-sessions e os shows de música instrumental, que é onde esses profissionais vão tocar quando não estão trabalhando com os blocos.
Devemos, sim, estar atentos e combativos contra a tirania das rádios comerciais, que não permitem que a boa poesia do porte de um Pedreira Lapa chegue até o grande público, que, enfim, deseja a cultura e o saber. Mas, prefiro convocar os artistas a realizarem um caminho evolutivo sobre esse bem precioso que temos: vamos criar música de qualidade, sobre a base da nova música afro-baiana. Assim fizeram os americanos com o jazz e os resultados foram os melhores possíveis.”

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